A lepra tem acompanhado as populações e as sociedades durante séculos.
Esta doença que é designada como “a doença mais antiga do mundo”, ainda se
encontra viva após 4000 anos, principalmente nos Países sub – desenvolvidos ou
sociedades tradicionais.
Devido a um processo normal e lento durante séculos, a medicina (prática
normalmente efetuada por monges, a classe letrada da época durante a Idade
Média), não encontrava respostas para a cura desta doença, como muitas outras, deixando
muitas vezes para a entidade clerical as decisões a ser tomadas.
Durante e após a Idade Média a lepra era considerada como maldição ou
pecado, e era associada erradamente a contágios obtidos por relações sexuais
durante a menstruação.
Nalguns casos a cura era entregue a impotentes curandeiros e as regras
ou normas de conduta ficavam por conta da igreja e dos médicos.
Face a uma epidemia global, instalou-se o pânico na população mundial
e cometeu-se por ignorância atos impiedosos contra todos os infetados, e as suas
famílias, obrigando-os a isolamento forçado.
Este
panorama apenas se modificou os desenvolvimentos da Medica e com o
desaparecimento do estigma desta doença.
Evolução histórica da doença
Os primeiros registos escritos conhecidos foram encontrados
no Egipto em 1350 A. C. Esta é uma das doenças mais antigas do Mundo, e hoje é
conhecida pela designação de Hansen nome do descobridor do microrganismo que provocava
a doença gerhardhansen.
A
designação de “lepra” é usada na bíblica hebraica como “tsaraáth”, o que
significa desonra, vergonha ou desgraça. No antigo Egipto, existem referências
a essa doença com mais de 3000 anos em hieróglifos (de 1350.A.C).
Devido ao crescente desenvolvimento do comércio e
deslocação das pessoas, contribuiu para que um grande numero depessoas na
Europa fossem contagiadas por essa
doença infecciosa.
Os médicos medievais, consideravam esta
doença como contagiosa e hereditária, obrigando os leprosos a serem separados
da zona com os seus filhos e familiares. A caridade que existia para estes
doentes, servia apenas para impedir a sua presença em mercados ou venda de
animais.
Devido ao
alastramento da doença, os leprosos foram submetidos a diversas regras durante
a sua sobrevivência.
Só
podiam sair dos leprosários, usando longas capas e mesmo assim eram
marginalizados, pois espetavam-lhes rabos de raposa durante o Carnaval, como
nos mostra o pintor flamengo do século XVI Pieter Bruegel, no seu quadro “Os
Aleijados.
Eram obrigados a usar luvas e um grande chapéu pontiagudo,
abanando uma matraca para assinalar a sua presença. Tal como pode ser
verificado noutro quadro de Bruegel“A luta entre o Carnaval e a Quaresma”.
Na Normandia e em algumas províncias, estes não
tinham quaisquer direitos jurídicos ou democráticos.
No seculo
XV surge uma cerimónia de desvinculação do leproso do resto da sociedade, que
consistia na morte do mesmo. O doente era conduzido para a igreja em cortejo
com cânticos fúnebres e assistia à missa sob cadafalso. À saída daIgreja o
padre pegava um punhal de terra do cemitério e punha na testa do doente
dizendo:
“Meu amigo é sinal que está morto para o mundo
e por isso tem paciência e louva em tudo a Deus”.
Na
tradução da bíblia grega existem passagens como sendo esta doença um castigo
divino.
Perante os
olhos dos homens da Idade Média, a decadência física de um doente significava
uma deformação da alma.
Uma lenda
medieval dizia que o imperador romano Constantino, teria ficado leproso após
uma perseguição a Cristãos, sendo curado ao converter-se ao Cristianismo.
A
mesma lenda sobre Constantino, afirma que ele tomava banhos de sangue humano
para curar as chagas.
No século
XIII já existiam na Europa cerca de 19 mil leprosários. Estes eram divididos
consoante a sua classe social. Os leprosários pobres, apenas podiam contar com
a boa vontade e com a caridade de alguns residentes das cidades, enquanto nos
outros leprosários ricos a realidade era bem diferente. “Gozavam” de outros
privilégios e comunidades (apesar de pagarem altas taxas de admissão,
contribuindo para a fortuna de alguns) e tinham a garantia de não morrer de
fome.
Na sua
grande maioria os leprosários eram dirigidos por congregações religiosas. Os
doentes recebiam uma soma para viver, e nos leprosários mais pobres,
as esmolas e ossalários daqueles que faziam tarefas fora, eram divididos entre
todos assegurando o sustento dos inválidos.
Em
Portugal no ano de 1210, o Rei D.Sancho I, mandou construir uma Gafaria em
Coimbra hoje Hospital de S. Lázaro. Esta instituição, destinava-se a doente
infetados com lepra e tinhapor objectivo de afastar estes doentes da cidade.
Durante
a epidemia no nosso País, estes doentes contavam com normas rígidas, tal como
ocorria na Gafaria de Santarém em 1223 onde os “Lázaros” (tal como eram
chamados) não podiam ir à vila sem licença, poie em caso de desobediência ficariam 3 dias sem “ração”.
Em condições especiais eram autorizados a sair durante 12 dias,
para ir em romaria ou às Caldas, e tinham apenas um dia para tratar de assuntos
particulares ou para pedir esmola.
Em Coimbra no Regimento de 1329 as regras eram semelhantes. Os
“Gafos” (tal como eram apelidados), apenas podiam sair em romaria ou ir à vila
com a licença do vedor (inspetor ou fiscal) e em caso de desobediência, os
infratores contavam com uma multa de 5 soldos.
Em Lisboa no século XV, sob regimento da Casa de S. Lázaro e
por ordenação dos próprios médicos as regras eram mais duras e severas. Não
podiam sair do local que lhes era destinado, e estavam proibidos de pedir
esmola, pois caso o fizessem eram presos e ficariam sem “ração” durante um mês.
Estes doentes estavam também sujeitos a normas de vestuário
(sobretudo a partir do século XIII) que incluía sinalização da sua presença.
Qualquer deslocação que fizessem para fora das leprosarias (hospital de
leprosos), viam-se obrigados a usar roupas próprias que os distinguissem do
resto da população, de modo a serem de pronto identificados.
Os chamados de “errantes” ou “andantes” eram os que se
encontravam em pior situação. Estes doentes eram aqueles que viviam da
mendicidade, e que não tinham qualquer hipótese de aceder às leprosarias devido
às quantias de dinheiro que lhes era exigido pelas leprosarias.
No
século XIV, D. Isabel, esposa de D. Dinis fundou o Hospital de Santa Elisabete
em Coimbra. Este hospital acolhia quinze homens e quinze mulheres pobres,
infetados pelo vírus de bacilo de hansen.
Segundo a sua vida narrada, conta-se que lavava
os pés a mulheres “gafas” vestia-as, dava esmolas a leprosos e vestia lázaros
pobres que fossem encontrados
Durante muito tempo esta doença permaneceu incurável, até que
em 1847 após uma extensa descrição de Daniel Danielsen Cornélio sobre a
hanseníase. Armauer Hansen em 1868, serviu-se desta base para que em 1874 o
bacilo de hansen fosse descoberto.
De acordo com o website manualmerck, mais de 5 milhões de
pessoas em todo o mundo estão ainda infetadas. A lepra é mais frequente na
Ásia, na Africa, na América Latina e nas ilhas do Pacifico. Alguns destes casos
ocorrem em países desenvolvidos devido ao fenómeno de emigração existente.
Esta
doença que muitos pensam que já foi erradicada do planeta, estão enganados,
pois esta continua viva um pouco por todo o lado.
Ana Antunes
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