terça-feira, 3 de julho de 2012

A Lepra


A lepra tem acompanhado as populações e as sociedades durante séculos. Esta doença que é designada como “a doença mais antiga do mundo”, ainda se encontra viva após 4000 anos, principalmente nos Países sub – desenvolvidos ou sociedades tradicionais.


Devido a um processo normal e lento durante séculos, a medicina (prática normalmente efetuada por monges, a classe letrada da época durante a Idade Média), não encontrava respostas para a cura desta doença, como muitas outras, deixando muitas vezes para a entidade clerical as decisões a ser tomadas.

Durante e após a Idade Média a lepra era considerada como maldição ou pecado, e era associada erradamente a contágios obtidos por relações sexuais durante a menstruação.

Nalguns casos a cura era entregue a impotentes curandeiros e as regras ou normas de conduta ficavam por conta da igreja e dos médicos.

Face a uma epidemia global, instalou-se o pânico na população mundial e cometeu-se por ignorância atos impiedosos contra todos os infetados, e as suas famílias, obrigando-os a isolamento forçado.
Este panorama apenas se modificou os desenvolvimentos da Medica e com o desaparecimento do estigma desta doença.


Evolução histórica da doença


Os primeiros registos escritos conhecidos foram encontrados no Egipto em 1350 A. C. Esta é uma das doenças mais antigas do Mundo, e hoje é conhecida pela designação de Hansen nome do descobridor do microrganismo que provocava a doença gerhardhansen.

O médico grego Hipócrates 460 A.C. (conhecido pelo “ pai da medicina” devido às suas ainda atuais descrições clinicas sobre anatomia), usou pela  primeira vez a designação de “lepra” quando relatou e detetou no corpo humano manchas brancas na pele e nos cabelos, contudo em nenhuma circunstância divulgou ou descreveu as  manifestações neuronais.
A designação de “lepra” é usada na bíblica hebraica como “tsaraáth”, o que significa desonra, vergonha ou desgraça. No antigo Egipto, existem referências a essa doença com mais de 3000 anos em hieróglifos (de 1350.A.C).
Na Europa na Idade Média, esta doença foi vista como incurável. As desfigurações físicas causadas pela doença e o perigo de contágio, fazia com que os leprosos fossem obrigados a isolar-se da sociedade e usar um sino para anunciar a sua presença. Calcula-se, que desde o final do século XI e durante os três séculos posteriores os infetados foram perseguidos, mal tratados e em muitos casos mortos.
Devido ao crescente desenvolvimento do comércio e deslocação das pessoas, contribuiu para que um grande numero depessoas na Europa fossem contagiadas por essa  doença infecciosa.
Os médicos medievais, consideravam esta doença como contagiosa e hereditária, obrigando os leprosos a serem separados da zona com os seus filhos e familiares. A caridade que existia para estes doentes, servia apenas para impedir a sua presença em mercados ou venda de animais.
Devido ao alastramento da doença, os leprosos foram submetidos a diversas regras durante a sua sobrevivência.
Só podiam sair dos leprosários, usando longas capas e mesmo assim eram marginalizados, pois espetavam-lhes rabos de raposa durante o Carnaval, como nos mostra o pintor flamengo do século XVI Pieter Bruegel, no seu quadro “Os Aleijados.


Eram obrigados a usar luvas e um grande chapéu pontiagudo, abanando uma matraca para assinalar a sua presença. Tal como pode ser verificado noutro quadro de Bruegel“A luta entre o Carnaval e a Quaresma”.


Na Normandia e em algumas províncias, estes não tinham quaisquer direitos jurídicos ou democráticos.
No seculo XV surge uma cerimónia de desvinculação do leproso do resto da sociedade, que consistia na morte do mesmo. O doente era conduzido para a igreja em cortejo com cânticos fúnebres e assistia à missa sob cadafalso. À saída daIgreja o padre pegava um punhal de terra do cemitério e punha na testa do doente dizendo:
“Meu amigo é sinal que está morto para o mundo e por isso tem paciência e louva em tudo a Deus”.
Na tradução da bíblia grega existem passagens como sendo esta doença um castigo divino.
Perante os olhos dos homens da Idade Média, a decadência física de um doente significava uma deformação da alma.
Uma lenda medieval dizia que o imperador romano Constantino, teria ficado leproso após uma perseguição a Cristãos, sendo curado ao converter-se ao Cristianismo.
A mesma lenda sobre Constantino, afirma que ele tomava banhos de sangue humano para curar as chagas.
No século XIII já existiam na Europa cerca de 19 mil leprosários. Estes eram divididos consoante a sua classe social. Os leprosários pobres, apenas podiam contar com a boa vontade e com a caridade de alguns residentes das cidades, enquanto nos outros leprosários ricos a realidade era bem diferente. “Gozavam” de outros privilégios e comunidades (apesar de pagarem altas taxas de admissão, contribuindo para a fortuna de alguns) e tinham a garantia de não morrer de fome.
Na sua grande maioria os leprosários eram dirigidos por congregações religiosas. Os doentes recebiam uma soma para viver, e nos leprosários mais pobres, as esmolas e ossalários daqueles que faziam tarefas fora, eram divididos entre todos assegurando o sustento dos inválidos.

Em Portugal no ano de 1210, o Rei D.Sancho I, mandou construir uma Gafaria em Coimbra hoje Hospital de S. Lázaro. Esta instituição, destinava-se a doente infetados com lepra e tinhapor objectivo de afastar estes doentes da cidade.
Durante a epidemia no nosso País, estes doentes contavam com normas rígidas, tal como ocorria na Gafaria de Santarém em 1223 onde os “Lázaros” (tal como eram chamados) não podiam ir à vila sem licença, poie em caso de desobediência ficariam 3 dias sem “ração”.
Em condições especiais eram autorizados a sair durante 12 dias, para ir em romaria ou às Caldas, e tinham apenas um dia para tratar de assuntos particulares ou para pedir esmola.
Em Coimbra no Regimento de 1329 as regras eram semelhantes. Os “Gafos” (tal como eram apelidados), apenas podiam sair em romaria ou ir à vila com a licença do vedor (inspetor ou fiscal) e em caso de desobediência, os infratores contavam com uma multa de 5 soldos.
Em Lisboa no século XV, sob regimento da Casa de S. Lázaro e por ordenação dos próprios médicos as regras eram mais duras e severas. Não podiam sair do local que lhes era destinado, e estavam proibidos de pedir esmola, pois caso o fizessem eram presos e ficariam sem “ração” durante um mês.
Estes doentes estavam também sujeitos a normas de vestuário (sobretudo a partir do século XIII) que incluía sinalização da sua presença. Qualquer deslocação que fizessem para fora das leprosarias (hospital de leprosos), viam-se obrigados a usar roupas próprias que os distinguissem do resto da população, de modo a serem de pronto identificados.
Os chamados de “errantes” ou “andantes” eram os que se encontravam em pior situação. Estes doentes eram aqueles que viviam da mendicidade, e que não tinham qualquer hipótese de aceder às leprosarias devido às quantias de dinheiro que lhes era exigido pelas leprosarias.
No século XIV, D. Isabel, esposa de D. Dinis fundou o Hospital de Santa Elisabete em Coimbra. Este hospital acolhia quinze homens e quinze mulheres pobres, infetados pelo vírus de bacilo de hansen.


Segundo a sua vida narrada, conta-se que lavava os pés a mulheres “gafas” vestia-as, dava esmolas a leprosos e vestia lázaros pobres que fossem encontrados
Durante muito tempo esta doença permaneceu incurável, até que em 1847 após uma extensa descrição de Daniel Danielsen Cornélio sobre a hanseníase. Armauer Hansen em 1868, serviu-se desta base para que em 1874 o bacilo de hansen fosse descoberto.
De acordo com o website manualmerck, mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo estão ainda infetadas. A lepra é mais frequente na Ásia, na Africa, na América Latina e nas ilhas do Pacifico. Alguns destes casos ocorrem em países desenvolvidos devido ao fenómeno de emigração existente.
Esta doença que muitos pensam que já foi erradicada do planeta, estão enganados, pois esta continua viva um pouco por todo o lado.

Ana Antunes

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